sábado, 25 de abril de 2009

historinha de amor - parte 1

Então ela estava lá, parada, olhando para a vitrine, estava lá há quinze minutos, entrou sabendo que queria sorvete, sabia que queria três bolas, conhecia duas dessas bolas, flocos e chocolate, mas não conseguia decidir-se pela terceira. Uma vitrine cheia de sabores, vinte tipos diferentes de nomear coisas rosas, mas alguns sabores realmente pareciam diferentes, melhor que não parecessem, melhor que houvesse apenas mais um, aí a escolha seria mais fácil, ela pensou isso, sim, ela pensou, nos primeiros cinco minutos, depois se perdeu nos possíveis critérios que usaria para a escolha, os primeiros cinco minutos foram também os minutos em que os outros clientes não se importaram com a demora, nos cinco minutos ulteriores apenas as mulheres se mostraram indignadas com a situação. os homens estavam entretidos com uma peculiar mania, diria mesmo eu, se psicanalista fosse, ato falho, da morena que escolhia o terceiro sabor. Ela levava o quadril, grande e belo, de um lado para outro, apenas num gingado cadenciado dum ritmo que apenas os seus quadris e os olhos dos homens presentes conheciam. As conjuges, talvez por não conhecerem o ritmo, contetavam-se em reclamar:
- Que absurdo!!! - a ênfase era essa, de três sinais. Ao que os seus pares se limitavam a responder:
- Um-rum... - com essa ênfase, de sinal algum. Os demais recentes cavalheiros, por sua vez, enquanto obedeciam a etiqueta básica de sua condição, damas primeiro, limitavam-se a rir, não da situação (não existem quadris que faça homens imbecis desse modo, rir de si, se as mulheres pensam doutra forma é que só promoram os seus, quadris, é claro, para homens já idiotas), mas os homens riam das mulheres, que num dia chuvoso estavam desse modo ansiosas por sorvete.
Os atendentes, em sua maioria homens, depois de haverem divertido-se até o limite do respeito ao consumidor, propuseram que pulasse-se a morena e que a fila desse continuidade sem que ela fosse levada em conta. Nos cinco minutos restantes que transcorrem e que nos guiam ao presente, já não havia necessidade para as mulheres gritassem "Que absurdo!!!" pois só a moça de cabelos negros ainda escolhia sabor, os sabores que estavam já em sua casca não tinham mais a mesma textura, e era pouco provável que tivessem o mesmo gosto, mas a moça continuava absorta naquele aparente embate hercúleo:
- Qual????? - com todas essas interrogações.
Seu quadril continuava o movimento, e por algum motivo que finjo desconhecer as mulheres sussuravam:
- Que absurdo!!!!!!!!!! - apesar do tom, a ênfase era essa com todas essas exclamações.
Finalmente, agora que os quinze minutos da senhorita de quadril rebolante acabaram, ela olha para o atendente, que ria há doze minutos, e diz o que de tão óbvio parecia impossível.
-Não consigo escolher.
E uma gota de chocolate cai ao chão.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Aurora

ainda acordando, mas já de pé
senti pesarem meus ombros
fisgadas doloridas percorreram meus musculos
e o cansaço encontrou em mim descanso

o refúgio ou a fuga da situação não eram opções
me vejo obrigada a enfrentar
percorro então minha mente
o mundo a minha volta não se mostra estimulante