quarta-feira, 27 de agosto de 2008

morreu
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

PARCIAIS

Carro, casa, marido, três filhos. Conta em banco, emprego estável, realização profissional. Para qualquer mulher, o ideal de felicidade. Para ela, a triste realidade da existência desmotivada e acomodação humanas.

O marido não mais a satisfazia, as crianças eram umas pestes, o trabalho, aquele velho hábito que lhe aborrecia todas as manhãs. Nada mais lhe agradava. Até que encontrou um amante.

Sentir-se viva novamente; estar no controle da situação. Se não pudesse escolher os rumos da sua vida dali em diante, ao menos, havia uma chance de desviar-se da rota que havia traçado, anos atrás, com aquele fatídico sim.

Na vizinhança, rumores de que seu casamento havia sido desfeito por conta da traição do seu marido. Na verdade, estava convencida de que toda essa fofoca lhe serviria de pretexto para que tomasse tal atitude, sem ao menos se dar ao trabalho de constatar a veracidade dos fatos.

Uma amiga havia lhe dito, certa vez, que "ninguém e santa ou pecadora 24 horas por dia". Sábia Clara! Lição que guardarei para o resto da vida; levarei comigo.

Como pôde julgar alguém por cair em tentação uma vez na vida? Nunca houvera estado do outro lado... até agora. A sensação de não ser bem vista pelos demais não a limitava. Pelo contrário. Era até com um certo prazer, um despudor, que agia enquanto na companhia do amante.

Na vizinhança, era conhecida por ser uma pessoa simpática e prestativa. Cumpria suas obrigações como integrante de um grupo voluntário que assistia uma comunidade pobre no bairro próximo ao escritório. Ainda conseguia demonstrar piedade pelo próximo, mas consentia que a sua vida, vazia de significado, talvez lhe tivesse tornado uma mulher frígida. Não conseguia demonstrar carinho nem mesmo pelos filhos.

Durante o tempo em que perdura seu caso, percebe sentir algo toda vez que está em companhia do marido. Se já não está apaixonada como antes, algo mais forte a impede de sair de casa. E dessa vez, percebe ser este 'algo', diferente do habitual sentimento de comodidade. Não, não era comodismo o que ainda a unia ao marido. O medo, o prazer, a iminência de ser descoberta... Tudo se mostra assustador – e a excita.

E todos os dias volta ao lar com o sorriso estampado, de quem encontrou a felicidade. E talvez a tenha verdadeiramente encontrado, nessa rotina embriagante de uma vida dupla.

Era feliz até descobrir, de fato, o que era a felicidade.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Êta guri!

Vi um dia um gurizinho bem arteiro
Bulinava em casa as coisas o dia inteiro
Não parava quieto: pulava e fazia estripulia
E se reclamavam, logo ele virava Maria
Maria escombona.

Êta guri malino!

Queria voar igual a uma muriçoca
Daquelas que quando mordem logo se coça
Visitava o pai no trabalho, fazendo enxame
E logo voltava pra casa, pra comer inhame

Êta guri esfomeado!

Na rua, só andava de bicicleta
Desenhava no chão uma ou outra seta
Vinha veloz e dava uma rabiada
E às vezes saia com uma perna machucada

Êta guri arteiro!

A mãe da cozinha gritava:
"Avia menino, vai já tomar banho"
E ele do quarto chorava:
"Quero não mainha, tô com uma pereba desse tamanho"

Êta guri coisado!

Mainha olhava a ferida, já com cara de sabida:
Trazia uma boa pomada, que deixava a perna ardida
"Chore não meu fio, quem mandou ser maluvido?"
"Tome logo o seu banho, e lembre de lavar o imbigo"

Êta guri lodento!

Uma ruma de vizinho já conhecia o tal guri
Um fuxico todo dia, só se ouvia o ti-ti-ti
E ele, pra não se deixar esculhambar
Assustava os gatos daquele povo, que só sabia cabuetar

Êta guri tucudo!

Futucando um dia no baú do velho avô
Encontrou um estilingue, imaginem o que aprontou
Saiu matando calango, acho que todos do mundo
Até que um o mordeu o pé, ele gritou: "ô fio do cabrunco"

Êta guri bocudo!

Era um guri feliz, futucando a esperança
De quem acha que um dia esqueceu de ser criança
Não seja paia, tire seu sapato
E sacuda a tristeza toda no mato

Êta guri felizardo!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Desbeijo

Um beijo é tudo
e ao mesmo tempo é nada

Beijo frio não alegra um coração
Palavras nuas fazem mal à alma

E como aquilo que se diz
é esquecido no momento
em que é falado e ouvido

Seu beijo me é esquecido
no momento
em que é beijado e sentido

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

pra lembrar

a arte do esquecimento
faz que todo eu
se perca no tempo