domingo, 13 de abril de 2008

Fim de tarde

Mais um final de semana em casa: sem companhia, sem inspiração para escrever, sem um destino. Ninguém para conversar, nada em mente que lhe sirva de desculpa - além da habitual falta de assunto - e nenhum rumo a ser tomado ao longo do dia. A leitura habitual, a espera por alguém que não irá aparecer, o cansaço e o tédio corriqueiros. A ansiedade por algo que não vai acontecer.
A mesma música, tocada diversas vezes, apostilas jogadas sobre a cama alinhada e o relógio à frente, marcando a passagem do tempo; tempo esse em que nada acontece.
A busca por algo que faça sentido, a incerteza de ser encontrada por alguém que anseie sua companhia, o desejo de um convite para sair. O dia já conta com a sua décima oitava hora, mas ainda há uma chance de que algo aconteça.
Levanta, menina! Vai côlher sorrisos pela rua, colorir a grama com a lama das suas pegadas, andar no sereno que a noite lhe oferece. Vai... Põe aquela roupa de festa, afinal, todos os dias lhe reservam alguma surpresa. Sai! Busca encontrar um alguém especial, talvez aquele amigo com quem não conversa há muito. Conta a ele todos os seus problemas, chora de rir se possível for. Vive com ele seus melhores momentos, até que lhe seja possível viver momentos melhores.
Faz desse dia um momento especial e desse amigo um porto seguro. Segura a sua mão e sente que não estás sozinha; convida outros amigos para um bate-papo, marca de encontrá-los em algum lugar. Divirta-se como nunca fôra possível e assim, seja verdadeiramente feliz; ao menos, por hoje.

sábado, 5 de abril de 2008

Ainda sobre amizade

O problema de uma afirmação generalista é que ela pode excluir certos elementos que se queria que estivessem incluídos. Quando digo que todo cão late e do nada encontro um bicho que, a despeito dessa afirmação, não late mas que é um cão, as idéias entram em conflito. Por isso cabe dizer agora que Carlos é um gato, um gato preto e vira-lata, sem nenhuma marca física que o distingüa de outros tantos gatos pretos e vira-latas. É esse gato preto que está com José agora no elevador, um elevador como vários outros, do prédio onde a dois dias moram ambos. Estão em uma conversa animada, José gesticula alegremente com a mão que não segura Carlos, falando da programação do dia, Iremos ao cinema, talvez depois a uma sorveteria por perto mesmo, não sei a que filme assistir, faz diferença pra você Carlos, eu pensei em um suspense, o que você acha. O elevador pára no andar logo abaixo, a atenção dos dois se desvia para esse processo, no final do processo, uma mulher, não mais de vinte e cinco anos, morena de cabelos negros, não mais de um metro e cinquenta e seis centímetros, com seios médios, coxas bastante interessantes, opinião de José, e com um perfume levemente floral e doce. Uma doçura que penetra nos poros e ameaça arrancar a pele quando a fonte se vai. Essa fonte ficou. Uma mulher, José e Carlos em um elevador. A mulher olhava constantemente para José, que constantemente olhava para baixo, Carlos estava alheio à situação. Num instante, apenas um instante em que José levantou a cabeça e fitou a mulher, atrás de sua bunda, os olhares foram trocados e ela sorriu. Não deve haver muitos sorrisos como esse, um sorriso que impediu José de continuar sua busca pela beleza mais baixa, pois lá há beleza, um sorriso que raptou os olhos de José, que os manteve cativos por ter do mundo retirado todo o brilho e nitidez para depositá-los em si. Enquanto os olhos de José estavam presos e Carlos se contorcia enjoado pelo doce da mulher, os gatos não devem ter tantos poros quanto os homens, ela perguntou lançando carícias em Carlos, O gato tem telefone. Há diferença entre a resposta verdadeira e a correta, José escolheu a verdadeira, e sorrindo bobamente falou, Não. É verdade, o gato não tem telefone. O sorriso foi desfeito, o mundo teve de volta seu brilho e nitidez, o botão do próximo andar foi apertado e ela desceu, levando alguma parte de José, antes de seu destino programado. Tudo isso, pareceu ao homem, ocorreu em um segundo. Antes de sair a mulher ainda disse, Idiota, fala a que Carlos fez coro e contínuou, Idiota, como você dá uma resposta dessa, como você pode ser tão burro, ela estava te querendo, seu nada, acorda, idiota. José totalmente atônito por ser a primeira vez que ouvia tanta grosseria vinda de Carlos, só conseguiu pronunciar, Mas ela perguntou por seu número. O gato se resignou a miar.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Rascunho

Por que eu não posso apenas sentir, como todos os outros? Por que eu pareço tão confusa? De me sentir bem, feliz, aceita... por que é tão difícil acreditar ser capaz? Quanto mais penso nisso, mais sou levada a questionar minhas verdadeiras razões. Por que é tão difícil seguir os próprios conselhos? Talvez por que opinar seja sempre mais fácil que agir.
Por que é tão cruel essa dor que sinto quando você vai porta afora? Por que sua imagem vem à minha mente sempre que penso em felicidade? Por que sempre me escondo atrás de falsos sorrisos? Quem me ensinou a ser assim?
Não sei. Talvez nunca saiba. Mas enquanto não encontro as respostas, vou vivendo a vida do jeito que ela me fora ensinada.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Liga a tv!

Naquela manhã havia acordado febril, como quem espera gripar logo em seguida. O corpo dolorido sugeria uma semana em casa. "Não vou poder ir pra escola hoje".

- É, Luizinho... a mamãe sabe. Vou falar pra sua irmã pedir a agenda à professora.
- Diz à tia Lila que amanhã eu vou.
- Só se estiver melhor, querido. Se continuar com febre, vai ficar mais um tempinho em casa.

Assim que deixa o quarto do garoto, dona Camila vai até o armário azul do seu quarto, buscar um termômetro que comprara dias atrás.

- Mãe!
- Que é, Luizinho?
- Quero ver televisão!
- Já vou ligar pra você.

[duas horas depois]

- Mãe, com fome.
- Vou pegar alguma coisa pra você comer.

[mais tarde]

- Mãe! com sede!
- Já indo!

Tempos depois, dona Camila traz o prato de Luizinho, que se recusa a comer os legumes. "Não, mãe. Você sabe que eu não gosto".

- Liga a televisão!
- Mas não está passando desenho essa hora...
- Coloca aquele DVD que a gente comprou semana passada, no mercado.

[Juliana chega da escola]

- E aí, trouxe a agenda?
- Tá aqui.
- Vai trocar de roupa pra almoçar.

[...]

- Vamos fazer o dever de casa, Luizinho?
- Agora não, mãe... tão cansado!
- Cansado de que, menino? Você não fez nada o dia inteiro...
- É que ficar doente dá muito trabalho, mãe!