O problema de uma afirmação generalista é que ela pode excluir certos elementos que se queria que estivessem incluídos. Quando digo que todo cão late e do nada encontro um bicho que, a despeito dessa afirmação, não late mas que é um cão, as idéias entram em conflito. Por isso cabe dizer agora que Carlos é um gato, um gato preto e vira-lata, sem nenhuma marca física que o distingüa de outros tantos gatos pretos e vira-latas. É esse gato preto que está com José agora no elevador, um elevador como vários outros, do prédio onde a dois dias moram ambos. Estão em uma conversa animada, José gesticula alegremente com a mão que não segura Carlos, falando da programação do dia, Iremos ao cinema, talvez depois a uma sorveteria por perto mesmo, não sei a que filme assistir, faz diferença pra você Carlos, eu pensei em um suspense, o que você acha. O elevador pára no andar logo abaixo, a atenção dos dois se desvia para esse processo, no final do processo, uma mulher, não mais de vinte e cinco anos, morena de cabelos negros, não mais de um metro e cinquenta e seis centímetros, com seios médios, coxas bastante interessantes, opinião de José, e com um perfume levemente floral e doce. Uma doçura que penetra nos poros e ameaça arrancar a pele quando a fonte se vai. Essa fonte ficou. Uma mulher, José e Carlos em um elevador. A mulher olhava constantemente para José, que constantemente olhava para baixo, Carlos estava alheio à situação. Num instante, apenas um instante em que José levantou a cabeça e fitou a mulher, atrás de sua bunda, os olhares foram trocados e ela sorriu. Não deve haver muitos sorrisos como esse, um sorriso que impediu José de continuar sua busca pela beleza mais baixa, pois lá há beleza, um sorriso que raptou os olhos de José, que os manteve cativos por ter do mundo retirado todo o brilho e nitidez para depositá-los em si. Enquanto os olhos de José estavam presos e Carlos se contorcia enjoado pelo doce da mulher, os gatos não devem ter tantos poros quanto os homens, ela perguntou lançando carícias em Carlos, O gato tem telefone. Há diferença entre a resposta verdadeira e a correta, José escolheu a verdadeira, e sorrindo bobamente falou, Não. É verdade, o gato não tem telefone. O sorriso foi desfeito, o mundo teve de volta seu brilho e nitidez, o botão do próximo andar foi apertado e ela desceu, levando alguma parte de José, antes de seu destino programado. Tudo isso, pareceu ao homem, ocorreu em um segundo. Antes de sair a mulher ainda disse, Idiota, fala a que Carlos fez coro e contínuou, Idiota, como você dá uma resposta dessa, como você pode ser tão burro, ela estava te querendo, seu nada, acorda, idiota. José totalmente atônito por ser a primeira vez que ouvia tanta grosseria vinda de Carlos, só conseguiu pronunciar, Mas ela perguntou por seu número. O gato se resignou a miar.
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3 comentários:
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uau!
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