Faz frio lá fora e tudo o que desejo nesse instante é uma xícara de café. No momento, escrevo como forma de evitar a solidão, já que durante meses busquei companhias que me fizessem bem, que acalmassem o meu espírito e aquecessem o meu coração, e acabei por não encontrá-las. Tudo o que encontrei foram palavras vazias, gestos sem sentido, e outros mecanizados, sem ternura.
Escrevo como forma de desabafo, para pedir ajuda, receber perdão. Peço a você, minha amiga, que me entenda. Que perdoe se não estiver sendo claro o suficiente, mas é que já é tarde; estou cansado e confuso. Não tive coragem de acender as luzes, pois todos estão dormindo.
Por mais que saiba que tudo passará pela manhã, durante as madrugadas fico triste, pois me sinto sozinho. Por muitas vezes apenas me encolhi em um canto e tentei sufocar o choro para que não despertasse a minha mãe que trabalha o dia inteiro e que não merece ter o seu descanso interrompido.
É um sentimento tão estranho esse que toma conta de mim... Quero chorar, desaparecer, mas ao mesmo tempo, tenho medo. Medo de me prostrar, de não conseguir resistir às pressões... a mim!
A vista dói, sinto meus olhos pesados, graças ao inchaço das minhas pálpebras. Não sei se terei coragem de lhe entregar essa carta, mas... como eu gostaria que soubesse de tudo o que se passa comigo! Talvez, conscientemente eu não queira... mas a fantasia de entregar-lhe essa carta é quem me dá motivação a continuar escrevendo.
Escrevo já sem pudor ou vertigem, mas com uma certa tristeza. Escrevo a torto e a direito, como um inconseqüente que apronta...
Queria desabafar sobre a minha vida, sobre o que tem acontecido comigo desde a última vez em que nos vimos.
Lembra da Silvinha, aquela menina que lhe apresentei há uns anos? Pois é... Depois de ter me deixado louco de amores, ela me abandonou. Disse que precisava se afastar por uns tempos, que esperava que eu ficasse bem, mas que não dava mais. Isso me magoou tanto, você nem imagina! Todos os dias eu ficava a pensar nela, na esperança de que voltasse atrás. Mas isso já faz um ano. Na verdade, hoje é exatamente o aniversário dessa sua decisão de me deixar. Talvez por isso esteja escrevendo para lhe contar. Ah, Silvinha, por que fez isso comigo? Por que me quer assim tão mal? Não vê que estou sofrendo?
Minha boa amiga... só com você posso contar nesse momento de tristeza. Sei que não está aqui comigo, mas é como se pudesse lhe sentir me abraçar. Estou tão triste! Desejava agora o teu colo para me mimar, mas sei que não posso; estamos longe.
O dia está amanhecendo... Vou juntar essa carta às tantas outras que a Silvinha mandou devolver.
Espero vê-la um dia.
J.M.