José acordou no chão do banheiro, é um lugar incomum de se dormir, isso para as pessoas comuns, José não é um ser comum, e comum para ele sempre foi dormir em lugares pouco convenientes, já acordou no corredor, na escada, no elevador, no sofá e na pia. Não é narcolepsia o problema de José, se se quiser chamar de problema José tem vários, depende se estar chovendo ou não, se tem muitas cédulas na carteira ou não, se estar mais próximo do bar ou do supermercado, nem todas variáveis que seu comportamento abriga José conhece, José não costuma se contemplar, nem pensar sobre o vinho, o uísque, a vodka, a cerveja, a cachaça, essa com mais raridade, que costuma beber e nunca elaborou essa questão como um problema, não a sentiu como um problema. Quando acordou com a cabeça na pia, talvez pelo desconforto causado pela posição pensou sobre o assunto, mas foi um momento rápido, a dor de cabeça o obrigou a mudar o foco de seus pensamentos. Agora ele acorda no centro do chão do banheiro em meio a uma poça, que evitarei precisar a composição, olha para o gato preto que está a sua frente e mia. Miou e desmaiou no instante seguinte, em meio ao breu que consumia sua visão lembrou da dama do elevador e miou, ao miar acordou. Já estava no box do banheiro na segunda vez que acordou, o chuveiro estava ligado e o gato continuava a olhá-lo. Não se sabe se gatos tem músculos faciais necessários à expressão de pena, mas Carlos os adquiriu sabe-se lá onde e os demonstrou a José. A água descendo pelo chuveiro era gélida, obviamente o ser que abriu esse chuveiro não era capaz de fazer os procedimentos necessários para promover um banho agradável. Enquanto a água caía, os olhares dos amigos continuavam cruzados. Como você chegou a isso, diz o gato, Acho que foi o uísque, ou talvez o vinho, responde o outro, Você já deveria ter entendido que o cinismo te faz parecer mais fraco do que já é, Você realmente acha que esse é o momento para discussões desse calibre, E que momento seria adequado, além desse, nesse em que você é menos que um animal, Não importa o que eu faça jamais serei um animal, já você, Não sei se isso é uma ofensa, então só posso te responder com alívio, que não importa o que eu faça, nunca serei um ser humano. José volta a desmaiar. José acorda em sua cama. O gato continua, insiste em olhá-lo. Como cheguei aqui, Como você acha, Olha, desculpa pelo que te disse no banheiro, não estava raciocinando, estava bêbado, Vamos fingir que isso seja uma justificativa e mudar o rumo dessa conversa, Você não disse se me perdoa, Acredite, o importante aqui é você se desculpar. Carlos aproximou seu focinho da face de José de modo que os olhos fossem forçados a manterem-se uns nos outros, o que você quer fazer de sua vida, não digo sua vida social, que é inexistente, mas puramente sua vida biológica, Eu ainda não estou sóbrio o suficiente para pensar em diferenciações como essas, Cinismo. José levantou-se de repente da cama, por sorte, não foi sorte, Carlos é um gato, e gatos caem em pé e no mesmo repente José foi ao bar da casa, buscou a bebida mais forte que tinha e voltou ao quarto, trancou a porta, trancou a janela, teve certeza que não havia modo de sair do quarto. Você fica aí com esse ar de superioridade, pensando que sabe tudo sobre mim, e nem ao menos bebeu em sua vida biológica, ou social, Sarcasmo, agora, Cale a boca, seu filho de uma puta, hoje eu vou mudar sua perspectiva. Correndo para seu amigo José o arrebatou no meio da corrida, Carlos não pareceu se importar com o ocorrido, apenas quando José forçou os primeiros goles é que ele resistiu um pouco mas foi se permitindo e em poucos goles já havia perdido a consciência, José pulava e gritava como uma criança contente e como homem bebeu os goles restantes e como seu amigo dormiu no chão do quarto.
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