terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

último parágrafo sobre amizade
Era tarde, como sempre costuma ser, José da as últimas voltas na chave, de um jeito um tanto mais barulhento do que o comum, do jeito que se dá para anunciar a quem você espera encontrar que você havia chegado. As voltas se deram, os barulhos soaram e José sentiu em suas pernas aquele para quem se anunciava, Carlos estava quente, uma quentura solidária, daquelas que se espalham pelo ambiente, enquanto José diriia-se para o sofá para espreguiçar-se e rir-se complacente da noite que provara Carlos segui-se-lhe enroscado nas pernas até que se deixou ficar antes de José jogar-se no sofá. José joga-se no sofá acende a luz lateral de um pequeno abajur de plasma, daqueles que ninguem sabe realmente por que foram inventados, e fitou pela penumbra que cercava a ele e ao abajur, fitou Carlos. Foi apenas pelo hábito que o reconheceu, não foi pela penumbra, não conhecemos apenas pelos olhos, José não poderia reconhecer de outro modo esse gato que está diante de nós, ele caminha como que por masoquismo, ele olha como se guarda-se o segredo duma vida nos lábios, ele fala como se se escondesse, O que você acha de agora, José não fala, baubicia algumas coisa inaudível para mim , mas não para Carlos que fala impaciente, Agora, o que você acha. Um grilo estilhaça-se na vidraça, o som acorda a penumbra e adormece o abajur, que passa a piscar num azul celeste que incomoda pela hora. Quando José retorna sua atenção para o gato ele já estava no meio da mesa, andando no ritmo do abajur, ou da escuridão, não se sabe, cada passo mergulhava seu corpo na escuridão e o próximo p trazia para a penumbra, todo o corpo, exceto os olhos, os olhos amarelos aprimavam-se de José, indiferentemente. E um ritmo indiferente a todo o resto, a boca persuntava no escuro A, e terminava na penumbra, Gora, e começava na penumbra, Ago, e termiva na escuridão, Ra. o gato se aproximava em três ritmos diferentes, o gato era um sinestesia em forma de jazz que se aproximava, e tal como uma música que se costumava ouvir bastante o gato foi se perdendo na cabeça de José, cada passo sentencia uma melodia, uma clave, um som, até que por fim o gato mia, tropeça no cinzeiro e morre, assim como o abajur, graça a Deus. José, convenientemente possui um relógio na parede da cozinha, contei onze minutos em que ele encarou o gato como havia encarado o grilo, depois correu pela porta, deixando-a aberta, atitude não muito prudente. Desceu seis andares de escada, passou pelo porteiro que realmente não estava muito interessado pela portaria e correu pelas ruas até lembrar-se do motivo pelo qual corria. Então, na madrugada de qualquer lugar, está um homem com um gato no colo olhando para os lados esperando algo que, assim como eu, ele sabe que não virá, não é preciso ser um narrador para saber que na madrugada taxis não passam por ruas secundárias, se o desvairio de José tivesse sido um pouco mais eficaz o teria levado a uma avenida, mas ele não se importa, aparentemente gosta de correr. O quarto taxista o acceita como passageiro, depois se arrepende, é claro, não imagino ninguém se sentindo confortável ao encontrar um homem que corre com um gato morto por uma avenida e levar tal homem ao cemitério mais próximo. Às portas do cemitério todos estaão aliviados pela corrida ter terminado, exceto o gato. José espera o taxista dobra a esquina para iniciar seu último desvairio, pula o muro do cemitério, sem checar os portões, a aventura necessita de um tanto de estupidez, e no meio da madrugada, sob a lua nova, procura uma lápide, mete a cara em cada uma para achar o que procurava e levou mais de uma hora e vários hematomas, paa que finalmente a acha-se, ela estava lá, Aqui jaz Carlos, cujo único grande feito foi ser humano, e não lhe poderiam ter pedido mais. A única lápide de um Carlos, aparentemente Carlos não costumam morrer, ou não costumam nascer, seja como for falta ainda o desfecho, de mãos nuas ele, o vivo, começa a escavar o túmulo, terminaria ao meio-dia se não fosse por um pastor de cabras que por alí passava e ajudou o outro vivo. O caixão foi aberto, sem muia cerimonia, todos os mortos serão respeitados essa noite, menos Carlos, o vivo, único no local desde que o pastor se foi, procurou onde ficava os pulmões e o coração de Carlos e lá pôs o gato delicadamente, agora com mais delicadeza ele baixa a tampa do caixão, ainda bem que o pastor estava por perto para se abrir esse caixão, joga-se a terra necessária, as ervas daninhas que faziam morada sobre o túmulo foram incomodadas, mas elas voltarão para seu lugar, assim como José. Ele só não voltará para cá, nunca.

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