quarta-feira, 6 de abril de 2011

Paradeiro - Arnaldo Antunes

com vontade de dizer muita, tanta, mas tanta coisa que não consigo definir que coisa é essa. optei então por usar as palavras de um amigo que sempre fala por mim, espero que apreciem.

"Haverá paradeiro para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio perto do precipício

Haverá paraíso
Sem perder o juízo e sem morrer
Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
Num momento preciso

Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?

Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
Haverá paraíso"

sábado, 1 de janeiro de 2011

sobre ficção,

não há muito tempo comecei a morar sozinho. custa caro, bem mais do que eu imaginava, e também dá muito mais trabalho. só chego em casa às 8 da noite e sempre muito cansado, mas uma noite em especial me atormenta: a noite das compras,;eu não fazia isso quando morava com meus pais. então estou eu lá, no supermercado, fazendo minhas compras, passando no caixa, procurando um táxi - deixei a moto em casa, não ajudaria muito com todo esse peso extra. pode imaginar que não haviam muitos carros disponíveis numa quinta-feira depois das 10 da noite. mas achei um, estava quase nele quando veio essa mulher, acho que com uns 1 e 57 de altura, segurando duas mochilas, uma em cada mão, cabelos cacheados, pretos, resumindo, belíssima. ela olhou para mim com o olhar mais indecente que poderia lançar àquela hora da noite, aquele olhar dizia tudo: quero seu táxi. não sou do tipo cavalheiro, mas, de novo, ela era linda. ofereci o táxi com o maior peso do mundo sobre o peito. para minha surpresa, ela perguntou se eu não queria dividir a viagem. era o unico táxi que eu tinha ma área, então é claro que aceitei. não sei direito o que houve, mas quando dei por mim estávamos no elevador do meu prédio dando os amassos mais estranhos, sem as mãos, cada um segurando suas compras e fazendo todo o trabalho com as pernas e a boca, dentro do apartamento, dentro do quarto, na cama. trabalho realizado, cada um cai de seu lado, antes de cair no sono, olho pra ela e digo:
- não tire meus orgãos
- ela: como é?
-Você sabe, um cara dorme com uma mulher que nunca viu e acaba sem algum orgão na manhã seguinte.
rimos, ela foi tomar um banho.
na manhã seguinte, eu sinto um frio aterrorizante por todo o corpo, meu corpo doía horrivelmente, mal conseguia mover algum másculo,quando consegui ter alguma noção de onde estava, percebi que meu corpo todo estava mergulhado na banheira cheia de gelo em minha casa, consegui saí da banheira, caído no chão me arrastei até cesto de roupas sujas, peguei umas toalhas, cobri meu corpo com quantas pude, descansei e busquei um telefone.
já na cozinha pego o telefone e chamo uma ambulância, eu só podia pensar "isso não está acontecendo, não está acontecendo...". caído, encostado na geladeira, vejo no reflexo do vidro do forno do fogão, traços pretos, corro pro banheiro com o corpo um pouco mais quente, diante do espelho vi o que eram os traços pretos, escrito na pele ilesa da minha barriga: "SÓ PQ VC PEDIU COM JEITINHO".
esse é um texto direcionado a você que se sente mal quando vê jovens se esfregando em ônibus, que não sabe onde nós vamos parar por que uma menina de 12 anos já não é mais virgem.você que acha que as mulheres de hoje são tudo puta. você, meu companheiro, cidadão de bem desse país. alguma vez se perguntou quando foi que tudo isso começou a ir ralo abaixo? pois bem, aqui está sua resposta: é tudo culpa da disney!! vejamos o exemplo de branca de neve, um clássico, assistido por milhares de crianças, e todo esse blábláblá. como a história começa, pergunto. é por que uma das meninas tirou uma nota maior na escola do que a outra? ou, talvez, por que uma tem pós-doutorado e a outra só tem um mestrado? é por causa de qualquer motivo razoável, pergunto. Não!!! se pararmos para pensar, a história é a seguinte: tem uma mulher que desde séculos é a mais bela nas paradas, daí surge outra, que é branca como a neve e, ainda por cima, é mais bela do que a primeira. ou seja, são duas negas se matando por que uma é mais bonita do que a outra, lembrou alguma coisa? não por que a outra é mais inteligente, até por que Branca de Neve é uma porta, mas por que é mais bonita. a princesa foge para não ser morta, o caçador deixa ela fugir por causa de sua beleza, daí ela encontra uma casinha e está tão cansada que se deita nas camas pequenas. Meu bom cidadão, veja lá se isso é comportamento de uma moça de família, ela entra numa casa de sete homens e a primeira coisa que faz é se deitar na cama deles. daí eles chegam deixam ela ficar com eles.
minuto pro raciocínio: sete homens chegam em casa e encontram uma gostosa em suas camas. qual seria a atitude deles?
depois disso eles passam um tempo cantando - sei, eu acredito também - até que a bruxa, que mantém sua beleza através de poções, descobre onde está branca de neve e vai lá tentar matá-la e mata. os anões tentam matar a bruxa.
minuto para reflexão: qual a atitude de sete homens perante uma pessoa que matou a gostosa que apareceu na cama deles?
a bruxa morta, por um raio, os anões voltam e controem um esquife para a princesa. agora vem o momento o qual nossas meninas foram criadas para achar lindo: O príncipe sabe que tem uma nega linda num caixão, vai até lá, beija a nega, ela acorda e ele a leva pra casa.
Cara, eu nem estou recriminando a necrofilia, mas a verdade é a seguinte: qual a banda favorita de Branca de Neve? Brother, qual é a cor favorita dela? Ela prefere gatos ou cães? O que nossas meninas foram criadas para acreditar?
Vamos pensar aqui o que foi preciso para o príncipe para levar Branca de Neve para o castelo, vulgo, casa: chegar nela e dar um beijo!
É aí que a gente percebe a verdade: Branca de Neve é uma piriguete! e desde crianças as meninas sonham em viver uma história como a dela.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Me deixa

Não me pergunte o que há, de novo.
Não me pergunte o que há de novo, por aí...

Não quero notícias, não me interessa.
Sei apenas que há coisas das quais é melhor não saber.
Minha ignorância, minha salvaguarda perante qualquer ilusão...
Ócio enquanto melhor pretexto pra permanecer... aqui... e ali...
e pra desistir de tentar lhe convencer.

Mas me deixa.
Que eu tô nem aqui...
Que eu tô nem aí
pra o que dizem essas pessoas.
Não me traga notícias de ninguém.
É que hoje eu tô meio assim, sei lá...

sábado, 25 de abril de 2009

historinha de amor - parte 1

Então ela estava lá, parada, olhando para a vitrine, estava lá há quinze minutos, entrou sabendo que queria sorvete, sabia que queria três bolas, conhecia duas dessas bolas, flocos e chocolate, mas não conseguia decidir-se pela terceira. Uma vitrine cheia de sabores, vinte tipos diferentes de nomear coisas rosas, mas alguns sabores realmente pareciam diferentes, melhor que não parecessem, melhor que houvesse apenas mais um, aí a escolha seria mais fácil, ela pensou isso, sim, ela pensou, nos primeiros cinco minutos, depois se perdeu nos possíveis critérios que usaria para a escolha, os primeiros cinco minutos foram também os minutos em que os outros clientes não se importaram com a demora, nos cinco minutos ulteriores apenas as mulheres se mostraram indignadas com a situação. os homens estavam entretidos com uma peculiar mania, diria mesmo eu, se psicanalista fosse, ato falho, da morena que escolhia o terceiro sabor. Ela levava o quadril, grande e belo, de um lado para outro, apenas num gingado cadenciado dum ritmo que apenas os seus quadris e os olhos dos homens presentes conheciam. As conjuges, talvez por não conhecerem o ritmo, contetavam-se em reclamar:
- Que absurdo!!! - a ênfase era essa, de três sinais. Ao que os seus pares se limitavam a responder:
- Um-rum... - com essa ênfase, de sinal algum. Os demais recentes cavalheiros, por sua vez, enquanto obedeciam a etiqueta básica de sua condição, damas primeiro, limitavam-se a rir, não da situação (não existem quadris que faça homens imbecis desse modo, rir de si, se as mulheres pensam doutra forma é que só promoram os seus, quadris, é claro, para homens já idiotas), mas os homens riam das mulheres, que num dia chuvoso estavam desse modo ansiosas por sorvete.
Os atendentes, em sua maioria homens, depois de haverem divertido-se até o limite do respeito ao consumidor, propuseram que pulasse-se a morena e que a fila desse continuidade sem que ela fosse levada em conta. Nos cinco minutos restantes que transcorrem e que nos guiam ao presente, já não havia necessidade para as mulheres gritassem "Que absurdo!!!" pois só a moça de cabelos negros ainda escolhia sabor, os sabores que estavam já em sua casca não tinham mais a mesma textura, e era pouco provável que tivessem o mesmo gosto, mas a moça continuava absorta naquele aparente embate hercúleo:
- Qual????? - com todas essas interrogações.
Seu quadril continuava o movimento, e por algum motivo que finjo desconhecer as mulheres sussuravam:
- Que absurdo!!!!!!!!!! - apesar do tom, a ênfase era essa com todas essas exclamações.
Finalmente, agora que os quinze minutos da senhorita de quadril rebolante acabaram, ela olha para o atendente, que ria há doze minutos, e diz o que de tão óbvio parecia impossível.
-Não consigo escolher.
E uma gota de chocolate cai ao chão.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Aurora

ainda acordando, mas já de pé
senti pesarem meus ombros
fisgadas doloridas percorreram meus musculos
e o cansaço encontrou em mim descanso

o refúgio ou a fuga da situação não eram opções
me vejo obrigada a enfrentar
percorro então minha mente
o mundo a minha volta não se mostra estimulante

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

último parágrafo sobre amizade
Era tarde, como sempre costuma ser, José da as últimas voltas na chave, de um jeito um tanto mais barulhento do que o comum, do jeito que se dá para anunciar a quem você espera encontrar que você havia chegado. As voltas se deram, os barulhos soaram e José sentiu em suas pernas aquele para quem se anunciava, Carlos estava quente, uma quentura solidária, daquelas que se espalham pelo ambiente, enquanto José diriia-se para o sofá para espreguiçar-se e rir-se complacente da noite que provara Carlos segui-se-lhe enroscado nas pernas até que se deixou ficar antes de José jogar-se no sofá. José joga-se no sofá acende a luz lateral de um pequeno abajur de plasma, daqueles que ninguem sabe realmente por que foram inventados, e fitou pela penumbra que cercava a ele e ao abajur, fitou Carlos. Foi apenas pelo hábito que o reconheceu, não foi pela penumbra, não conhecemos apenas pelos olhos, José não poderia reconhecer de outro modo esse gato que está diante de nós, ele caminha como que por masoquismo, ele olha como se guarda-se o segredo duma vida nos lábios, ele fala como se se escondesse, O que você acha de agora, José não fala, baubicia algumas coisa inaudível para mim , mas não para Carlos que fala impaciente, Agora, o que você acha. Um grilo estilhaça-se na vidraça, o som acorda a penumbra e adormece o abajur, que passa a piscar num azul celeste que incomoda pela hora. Quando José retorna sua atenção para o gato ele já estava no meio da mesa, andando no ritmo do abajur, ou da escuridão, não se sabe, cada passo mergulhava seu corpo na escuridão e o próximo p trazia para a penumbra, todo o corpo, exceto os olhos, os olhos amarelos aprimavam-se de José, indiferentemente. E um ritmo indiferente a todo o resto, a boca persuntava no escuro A, e terminava na penumbra, Gora, e começava na penumbra, Ago, e termiva na escuridão, Ra. o gato se aproximava em três ritmos diferentes, o gato era um sinestesia em forma de jazz que se aproximava, e tal como uma música que se costumava ouvir bastante o gato foi se perdendo na cabeça de José, cada passo sentencia uma melodia, uma clave, um som, até que por fim o gato mia, tropeça no cinzeiro e morre, assim como o abajur, graça a Deus. José, convenientemente possui um relógio na parede da cozinha, contei onze minutos em que ele encarou o gato como havia encarado o grilo, depois correu pela porta, deixando-a aberta, atitude não muito prudente. Desceu seis andares de escada, passou pelo porteiro que realmente não estava muito interessado pela portaria e correu pelas ruas até lembrar-se do motivo pelo qual corria. Então, na madrugada de qualquer lugar, está um homem com um gato no colo olhando para os lados esperando algo que, assim como eu, ele sabe que não virá, não é preciso ser um narrador para saber que na madrugada taxis não passam por ruas secundárias, se o desvairio de José tivesse sido um pouco mais eficaz o teria levado a uma avenida, mas ele não se importa, aparentemente gosta de correr. O quarto taxista o acceita como passageiro, depois se arrepende, é claro, não imagino ninguém se sentindo confortável ao encontrar um homem que corre com um gato morto por uma avenida e levar tal homem ao cemitério mais próximo. Às portas do cemitério todos estaão aliviados pela corrida ter terminado, exceto o gato. José espera o taxista dobra a esquina para iniciar seu último desvairio, pula o muro do cemitério, sem checar os portões, a aventura necessita de um tanto de estupidez, e no meio da madrugada, sob a lua nova, procura uma lápide, mete a cara em cada uma para achar o que procurava e levou mais de uma hora e vários hematomas, paa que finalmente a acha-se, ela estava lá, Aqui jaz Carlos, cujo único grande feito foi ser humano, e não lhe poderiam ter pedido mais. A única lápide de um Carlos, aparentemente Carlos não costumam morrer, ou não costumam nascer, seja como for falta ainda o desfecho, de mãos nuas ele, o vivo, começa a escavar o túmulo, terminaria ao meio-dia se não fosse por um pastor de cabras que por alí passava e ajudou o outro vivo. O caixão foi aberto, sem muia cerimonia, todos os mortos serão respeitados essa noite, menos Carlos, o vivo, único no local desde que o pastor se foi, procurou onde ficava os pulmões e o coração de Carlos e lá pôs o gato delicadamente, agora com mais delicadeza ele baixa a tampa do caixão, ainda bem que o pastor estava por perto para se abrir esse caixão, joga-se a terra necessária, as ervas daninhas que faziam morada sobre o túmulo foram incomodadas, mas elas voltarão para seu lugar, assim como José. Ele só não voltará para cá, nunca.

sábado, 15 de novembro de 2008

Daqui

Daqui vejo o movimento dos carros
e das pessoas a transitar pelas ruas estreitas.

Daqui consigo enxergar seus sonhos,
até onde meus olhos me permitem alcançar.

Daqui vejo o mundo girar
e ele me vê, a espiar,
a vida passar pela janela.

domingo, 9 de novembro de 2008

Finalizando sobre amizade

Carlos acordou dentro da caixa de areia, não é um lugar comum para gatos acrodarem, não que este que lhes narra essas crônicas tenha alguma idéia de onde gatos deveriam acordar, mas não me parece, não sei quanto a vocês, que um animal que se dá ao trabalho de enterrar seus dejetos se deleite em acordar em cima deles, afinal é um gato não um ser humano. O ser humano, héroi dessas crônicas, vai acordar dentro em pouco, mas ao contrário do gato, José não estará de ressaca, de fato, faz algum tempo que José não bebe uma gota de álcool. Ontem a noite, antes de entrar no apartamento da vizinha, antes de beijá-la, estava ele comendo e lhe perguntaram o que ele queria para acompanhar o prato e para a surpresa de ninguém, José responde, Nada, estou satisfeito com água. Ninguém tinha motivos para ficar surpreso, pois só ninguém e nós sabíamos dos problemas de José com álcool, mas apenas ninguém presenciou a cena, segundo ele, impressionante. Contudo, antes de sair para aquele inesperado jantar, inesperado para todos, José teve o cuidado de encher taças, cálices, canecas e copos, cada um com um tipo de bebida que melhor satisfizesse as etiquetas que aqui devem ser respeitadas, pois apesar de Carlos ser um gato, e mais recentemente, um gato alcoólatra, ele é muito atento às regras de etiqueta, lembremos que ele enterra seus dejetos. Então concomitantemente ao jantar, romântico de José, Carlos usa sua delgada língua para capturar a cerveja do caneco, o licor do cálice, a caipirinha do copo, pequeno erro de etiqueta, e por fim o vinho do porto da taça, mas que se repare que apesar de cruzar mais de uma vez suas quatro patas entre si, de cair, com certeza não em pé, Carlos ainda cambaleou até a privada da casa para beber água, para limpar o paladar, ele sabe que não se deve beber algo dessa qualidade de qualquer forma, bem verdade que ele quase morreu afogado na privada e teve o desprazer de quase acordar e presenciar seu estado, mas ele voltou, menos cambaleante, até a taça e a bebeu, não, não a bebeu, graças a sua experiência de quase-morte, podemos dizer ele saboreou o vinho. José, nesse interím, já está no quarto da vizinha, aquela mesma do elevador, apesar de eu ser o narrador não me perguntem o que ele fez para apagar a desastrosa primeira impressão e estar agora com aquela vizinha no apartamento dela, mas não se preocupem que eu me esforçarei para arrancar essa informação desse personagem que gosta de se manter fechado, no entanto, pondo de lado essa questão, fica uma outra, a de saber por que raios um ser humano antes de sair de casa enche recipientes de álcool para que seu gato beba. Geralmente a resposta mais simples serviria, a saber, é um ser humano, pode se esperar tudo desse tipo. Mas no caso específico de José é a culpa que o faz cumprir esse ritual, ele já tentou deixar seu gato abstêmio, mas antes de virar a chave pela segunda vez o pensamento de que havia sido ele a iniciar o gato naquele vício não permitia que ele se fosse sem deixar algum tipo de compensação para o infeliz que havia prejudicado, e talvez para se consolar dizia, Eu conseguir sair dessa, ele também vai, dizia-o em voz alta, talvez para se convencer. Contudo, por mais que eu tenha escrutinado insidiosamente o cérebro de José, não consigo achar o motivo de ele ter que colocar cada bebida num recipiente adequado, vá lá, Carlos não é um gato qualquer, é um gato refinado, mas o mais refinado dos gatos não atentaria para a diferença entre se beber vinho numa taça ou em um cálice. Então, na noite anterior, depois de ter colocado cada bebida em seu devido lugar, José se dirige a porta, Carlos o encara do sofá, onde acaba de perceber que o dono vai sair, mais perfumado do que geralmente sai, José abre a porta, Carlos continua a encará-lo, José olha para trás e ouve Carlos dizer, Disponha. E nessa manhã, quando abriu os olhos o homem disse, Obrigado, olhando para a dama morena que deitava ao seu lado, ela virou para o lado e continuou a dormir, sabia que a palavra não era para ela.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Nhéim

Nem vem
que
Nem tem

E de gente Fonhéim
to cheio!

Amém.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

morreu
?
!
...
.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

PARCIAIS

Carro, casa, marido, três filhos. Conta em banco, emprego estável, realização profissional. Para qualquer mulher, o ideal de felicidade. Para ela, a triste realidade da existência desmotivada e acomodação humanas.

O marido não mais a satisfazia, as crianças eram umas pestes, o trabalho, aquele velho hábito que lhe aborrecia todas as manhãs. Nada mais lhe agradava. Até que encontrou um amante.

Sentir-se viva novamente; estar no controle da situação. Se não pudesse escolher os rumos da sua vida dali em diante, ao menos, havia uma chance de desviar-se da rota que havia traçado, anos atrás, com aquele fatídico sim.

Na vizinhança, rumores de que seu casamento havia sido desfeito por conta da traição do seu marido. Na verdade, estava convencida de que toda essa fofoca lhe serviria de pretexto para que tomasse tal atitude, sem ao menos se dar ao trabalho de constatar a veracidade dos fatos.

Uma amiga havia lhe dito, certa vez, que "ninguém e santa ou pecadora 24 horas por dia". Sábia Clara! Lição que guardarei para o resto da vida; levarei comigo.

Como pôde julgar alguém por cair em tentação uma vez na vida? Nunca houvera estado do outro lado... até agora. A sensação de não ser bem vista pelos demais não a limitava. Pelo contrário. Era até com um certo prazer, um despudor, que agia enquanto na companhia do amante.

Na vizinhança, era conhecida por ser uma pessoa simpática e prestativa. Cumpria suas obrigações como integrante de um grupo voluntário que assistia uma comunidade pobre no bairro próximo ao escritório. Ainda conseguia demonstrar piedade pelo próximo, mas consentia que a sua vida, vazia de significado, talvez lhe tivesse tornado uma mulher frígida. Não conseguia demonstrar carinho nem mesmo pelos filhos.

Durante o tempo em que perdura seu caso, percebe sentir algo toda vez que está em companhia do marido. Se já não está apaixonada como antes, algo mais forte a impede de sair de casa. E dessa vez, percebe ser este 'algo', diferente do habitual sentimento de comodidade. Não, não era comodismo o que ainda a unia ao marido. O medo, o prazer, a iminência de ser descoberta... Tudo se mostra assustador – e a excita.

E todos os dias volta ao lar com o sorriso estampado, de quem encontrou a felicidade. E talvez a tenha verdadeiramente encontrado, nessa rotina embriagante de uma vida dupla.

Era feliz até descobrir, de fato, o que era a felicidade.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Êta guri!

Vi um dia um gurizinho bem arteiro
Bulinava em casa as coisas o dia inteiro
Não parava quieto: pulava e fazia estripulia
E se reclamavam, logo ele virava Maria
Maria escombona.

Êta guri malino!

Queria voar igual a uma muriçoca
Daquelas que quando mordem logo se coça
Visitava o pai no trabalho, fazendo enxame
E logo voltava pra casa, pra comer inhame

Êta guri esfomeado!

Na rua, só andava de bicicleta
Desenhava no chão uma ou outra seta
Vinha veloz e dava uma rabiada
E às vezes saia com uma perna machucada

Êta guri arteiro!

A mãe da cozinha gritava:
"Avia menino, vai já tomar banho"
E ele do quarto chorava:
"Quero não mainha, tô com uma pereba desse tamanho"

Êta guri coisado!

Mainha olhava a ferida, já com cara de sabida:
Trazia uma boa pomada, que deixava a perna ardida
"Chore não meu fio, quem mandou ser maluvido?"
"Tome logo o seu banho, e lembre de lavar o imbigo"

Êta guri lodento!

Uma ruma de vizinho já conhecia o tal guri
Um fuxico todo dia, só se ouvia o ti-ti-ti
E ele, pra não se deixar esculhambar
Assustava os gatos daquele povo, que só sabia cabuetar

Êta guri tucudo!

Futucando um dia no baú do velho avô
Encontrou um estilingue, imaginem o que aprontou
Saiu matando calango, acho que todos do mundo
Até que um o mordeu o pé, ele gritou: "ô fio do cabrunco"

Êta guri bocudo!

Era um guri feliz, futucando a esperança
De quem acha que um dia esqueceu de ser criança
Não seja paia, tire seu sapato
E sacuda a tristeza toda no mato

Êta guri felizardo!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Desbeijo

Um beijo é tudo
e ao mesmo tempo é nada

Beijo frio não alegra um coração
Palavras nuas fazem mal à alma

E como aquilo que se diz
é esquecido no momento
em que é falado e ouvido

Seu beijo me é esquecido
no momento
em que é beijado e sentido

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

pra lembrar

a arte do esquecimento
faz que todo eu
se perca no tempo

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sem inspiração...

Sabe aqueles dias
quando tudo parece passado distante
as alegrias são remotas
as risadas já foram esquecidas
e somente a saudade restou?!

Nestes dias,
a inspiração pro recomeço
some.
Tudo se torna cinzas
e o vento está levando, levando, levando...
Quando vou me transformar numa
Fênix?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Será que cabe romantismo em mim?

Falar de amor não é fácil,
precisa-se teorizar,
institucionalizar o amor
e pôr limites onde não há.

Também não é fácil amar,
não é fácil para uma finitude cotidiana
deixar-se penetrar pelas perturbações
e pelas incongruências
que nela são provocadas
quando em contato com algo
de natureza tão oposta à sua
como é o amor

Acontece que eu acabei de falar de amor!
Pois, se ele é de natureza oposta
ao que é finito e cotidiano
logo, é infinito e extraordinário!

Mas ainda assim
o amor não cabe nesta lógica.

Infinito não serve
porque quando estou com você
tenho medo do fim.
Uma angústia me consome
e eu só consigo pensar
que mais cedo ou mais tarde
o seu amor por mim
vai acabar.
Mas por outro lado
há uma chama de certeza
que permite que eu me entregue
e saiba que amanhã você vai voltar.

Isso não é extraordinário?!

Não, não é!
Isso, extraordinariamente,
invade meu ser todos os dias
e até mais de uma vez por dia
tantos quantos forem os momentos
em que estou com você.

Não existem palavras
que sirvam à lógica do amor
porque o amor não tem lógica
ele é sim e não,
é tesouro e esmola,
é nada do que eu tenho
e tudo que eu quero te dar!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Despedida

Com quem irei conversar, sempre... sobre tudo, ou sobre qualquer coisa?

Quem me apoiará, quando eu estiver chateada?
E os puxões de orelha, diz quem é que vai dar.
Sentirei saudades e ponto.

Saudades do meu cabelo arrumado, que por graça, você faz questão de bagunçar.
Saudades da nossa conversa na cozinha, saudades do desabafo.
Das piadas sem graça...

Saudades até das inúmeras vezes em que você solta meu cabelo, só pra me chatear.
Saudades dos sustos que você me dá; e dos tapas que lhe dou por me assustar.

Saudades de cozinhar pra você.
De não cozinhar pra você, e você acabar "filando" a minha comida...

De lhe ouvir me chamar de "mitcha"...
De tentar fazer tranças nos fios de cabelo do seu braço.
Até das brigas sentirei falta.

Das vezes em que você voltava pra casa com algo que tinha comprado pra mim, e dizia: "lembrei de você".
Saudades de também lembrar de você.
Saudades da sua chatice...
Saudades, enfim.

Em resumo: sentirei saudades da sua presença. Por isso, volte logo!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

metacardiologia

um coração exposto
não morre
de desgosto

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A Via Lactea

"Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso

Hoje a tristeza não é passageira
Hoje fiquei com febre a tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela parecerá uma lágrima

Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor
Mas não me diga isso!
É só hoje e isso passa...
Só me deixe aqui quieto
Isso passa.
Amanhã é outro dia
Não é?

Eu nem sei por quê me sinto assim
Vem de repente um anjo triste perto de mim
E essa febre que não passa
E meu sorriso sem graça
Não me dê atenção
Mas obrigado por pensar em mim.

Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Eu me sinto tão sozinho
Quando tudo está perdido
Não quero mais ser quem eu sou.

Mas não me diga isso
Não me dê atenção
E obrigado por pensar em mim..."


PS.: sei que era pra ser uma produção nossa... mas alguém já viu uma pessoa pra conseguir traduzir melhor o que a gente sente do que Renato Russo!!