quarta-feira, 6 de abril de 2011
Paradeiro - Arnaldo Antunes
"Haverá paradeiro para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio perto do precipício
Haverá paraíso
Sem perder o juízo e sem morrer
Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
Num momento preciso
Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
Haverá paraíso"
sábado, 1 de janeiro de 2011
não há muito tempo comecei a morar sozinho. custa caro, bem mais do que eu imaginava, e também dá muito mais trabalho. só chego em casa às 8 da noite e sempre muito cansado, mas uma noite em especial me atormenta: a noite das compras,;eu não fazia isso quando morava com meus pais. então estou eu lá, no supermercado, fazendo minhas compras, passando no caixa, procurando um táxi - deixei a moto em casa, não ajudaria muito com todo esse peso extra. pode imaginar que não haviam muitos carros disponíveis numa quinta-feira depois das 10 da noite. mas achei um, estava quase nele quando veio essa mulher, acho que com uns 1 e 57 de altura, segurando duas mochilas, uma em cada mão, cabelos cacheados, pretos, resumindo, belíssima. ela olhou para mim com o olhar mais indecente que poderia lançar àquela hora da noite, aquele olhar dizia tudo: quero seu táxi. não sou do tipo cavalheiro, mas, de novo, ela era linda. ofereci o táxi com o maior peso do mundo sobre o peito. para minha surpresa, ela perguntou se eu não queria dividir a viagem. era o unico táxi que eu tinha ma área, então é claro que aceitei. não sei direito o que houve, mas quando dei por mim estávamos no elevador do meu prédio dando os amassos mais estranhos, sem as mãos, cada um segurando suas compras e fazendo todo o trabalho com as pernas e a boca, dentro do apartamento, dentro do quarto, na cama. trabalho realizado, cada um cai de seu lado, antes de cair no sono, olho pra ela e digo:
- não tire meus orgãos
- ela: como é?
-Você sabe, um cara dorme com uma mulher que nunca viu e acaba sem algum orgão na manhã seguinte.
rimos, ela foi tomar um banho.
na manhã seguinte, eu sinto um frio aterrorizante por todo o corpo, meu corpo doía horrivelmente, mal conseguia mover algum másculo,quando consegui ter alguma noção de onde estava, percebi que meu corpo todo estava mergulhado na banheira cheia de gelo em minha casa, consegui saí da banheira, caído no chão me arrastei até cesto de roupas sujas, peguei umas toalhas, cobri meu corpo com quantas pude, descansei e busquei um telefone.
já na cozinha pego o telefone e chamo uma ambulância, eu só podia pensar "isso não está acontecendo, não está acontecendo...". caído, encostado na geladeira, vejo no reflexo do vidro do forno do fogão, traços pretos, corro pro banheiro com o corpo um pouco mais quente, diante do espelho vi o que eram os traços pretos, escrito na pele ilesa da minha barriga: "SÓ PQ VC PEDIU COM JEITINHO".
minuto pro raciocínio: sete homens chegam em casa e encontram uma gostosa em suas camas. qual seria a atitude deles?
depois disso eles passam um tempo cantando - sei, eu acredito também - até que a bruxa, que mantém sua beleza através de poções, descobre onde está branca de neve e vai lá tentar matá-la e mata. os anões tentam matar a bruxa.
minuto para reflexão: qual a atitude de sete homens perante uma pessoa que matou a gostosa que apareceu na cama deles?
a bruxa morta, por um raio, os anões voltam e controem um esquife para a princesa. agora vem o momento o qual nossas meninas foram criadas para achar lindo: O príncipe sabe que tem uma nega linda num caixão, vai até lá, beija a nega, ela acorda e ele a leva pra casa.
Cara, eu nem estou recriminando a necrofilia, mas a verdade é a seguinte: qual a banda favorita de Branca de Neve? Brother, qual é a cor favorita dela? Ela prefere gatos ou cães? O que nossas meninas foram criadas para acreditar?
Vamos pensar aqui o que foi preciso para o príncipe para levar Branca de Neve para o castelo, vulgo, casa: chegar nela e dar um beijo!
É aí que a gente percebe a verdade: Branca de Neve é uma piriguete! e desde crianças as meninas sonham em viver uma história como a dela.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Me deixa
Não me pergunte o que há de novo, por aí...
Não quero notícias, não me interessa.
Sei apenas que há coisas das quais é melhor não saber.
Minha ignorância, minha salvaguarda perante qualquer ilusão...
Ócio enquanto melhor pretexto pra permanecer... aqui... e ali...
e pra desistir de tentar lhe convencer.
Mas me deixa.
Que eu tô nem aqui...
Que eu tô nem aí
pra o que dizem essas pessoas.
Não me traga notícias de ninguém.
É que hoje eu tô meio assim, sei lá...
sábado, 25 de abril de 2009
historinha de amor - parte 1
- Que absurdo!!! - a ênfase era essa, de três sinais. Ao que os seus pares se limitavam a responder:
- Um-rum... - com essa ênfase, de sinal algum. Os demais recentes cavalheiros, por sua vez, enquanto obedeciam a etiqueta básica de sua condição, damas primeiro, limitavam-se a rir, não da situação (não existem quadris que faça homens imbecis desse modo, rir de si, se as mulheres pensam doutra forma é que só promoram os seus, quadris, é claro, para homens já idiotas), mas os homens riam das mulheres, que num dia chuvoso estavam desse modo ansiosas por sorvete.
Os atendentes, em sua maioria homens, depois de haverem divertido-se até o limite do respeito ao consumidor, propuseram que pulasse-se a morena e que a fila desse continuidade sem que ela fosse levada em conta. Nos cinco minutos restantes que transcorrem e que nos guiam ao presente, já não havia necessidade para as mulheres gritassem "Que absurdo!!!" pois só a moça de cabelos negros ainda escolhia sabor, os sabores que estavam já em sua casca não tinham mais a mesma textura, e era pouco provável que tivessem o mesmo gosto, mas a moça continuava absorta naquele aparente embate hercúleo:
- Qual????? - com todas essas interrogações.
Seu quadril continuava o movimento, e por algum motivo que finjo desconhecer as mulheres sussuravam:
- Que absurdo!!!!!!!!!! - apesar do tom, a ênfase era essa com todas essas exclamações.
Finalmente, agora que os quinze minutos da senhorita de quadril rebolante acabaram, ela olha para o atendente, que ria há doze minutos, e diz o que de tão óbvio parecia impossível.
-Não consigo escolher.
E uma gota de chocolate cai ao chão.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Aurora
senti pesarem meus ombros
fisgadas doloridas percorreram meus musculos
e o cansaço encontrou em mim descanso
o refúgio ou a fuga da situação não eram opções
me vejo obrigada a enfrentar
percorro então minha mente
o mundo a minha volta não se mostra estimulante
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
sábado, 15 de novembro de 2008
Daqui
e das pessoas a transitar pelas ruas estreitas.
Daqui consigo enxergar seus sonhos,
até onde meus olhos me permitem alcançar.
Daqui vejo o mundo girar
e ele me vê, a espiar,
a vida passar pela janela.
domingo, 9 de novembro de 2008
Finalizando sobre amizade
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
PARCIAIS
Carro, casa, marido, três filhos. Conta em banco, emprego estável, realização profissional. Para qualquer mulher, o ideal de felicidade. Para ela, a triste realidade da existência desmotivada e acomodação humanas.
O marido não mais a satisfazia, as crianças eram umas pestes, o trabalho, aquele velho hábito que lhe aborrecia todas as manhãs. Nada mais lhe agradava. Até que encontrou um amante.
Sentir-se viva novamente; estar no controle da situação. Se não pudesse escolher os rumos da sua vida dali em diante, ao menos, havia uma chance de desviar-se da rota que havia traçado, anos atrás, com aquele fatídico sim.
Na vizinhança, rumores de que seu casamento havia sido desfeito por conta da traição do seu marido. Na verdade, estava convencida de que toda essa fofoca lhe serviria de pretexto para que tomasse tal atitude, sem ao menos se dar ao trabalho de constatar a veracidade dos fatos.
Uma amiga havia lhe dito, certa vez, que "ninguém e santa ou pecadora 24 horas por dia". Sábia Clara! Lição que guardarei para o resto da vida; levarei comigo.
Como pôde julgar alguém por cair em tentação uma vez na vida? Nunca houvera estado do outro lado... até agora. A sensação de não ser bem vista pelos demais não a limitava. Pelo contrário. Era até com um certo prazer, um despudor, que agia enquanto na companhia do amante.
Na vizinhança, era conhecida por ser uma pessoa simpática e prestativa. Cumpria suas obrigações como integrante de um grupo voluntário que assistia uma comunidade pobre no bairro próximo ao escritório. Ainda conseguia demonstrar piedade pelo próximo, mas consentia que a sua vida, vazia de significado, talvez lhe tivesse tornado uma mulher frígida. Não conseguia demonstrar carinho nem mesmo pelos filhos.
Durante o tempo em que perdura seu caso, percebe sentir algo toda vez que está em companhia do marido. Se já não está apaixonada como antes, algo mais forte a impede de sair de casa. E dessa vez, percebe ser este 'algo', diferente do habitual sentimento de comodidade. Não, não era comodismo o que ainda a unia ao marido. O medo, o prazer, a iminência de ser descoberta... Tudo se mostra assustador – e a excita.
E todos os dias volta ao lar com o sorriso estampado, de quem encontrou a felicidade. E talvez a tenha verdadeiramente encontrado, nessa rotina embriagante de uma vida dupla.
Era feliz até descobrir, de fato, o que era a felicidade.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Êta guri!
Bulinava em casa as coisas o dia inteiro
Não parava quieto: pulava e fazia estripulia
E se reclamavam, logo ele virava Maria
Maria escombona.
Êta guri malino!
Queria voar igual a uma muriçoca
Daquelas que quando mordem logo se coça
Visitava o pai no trabalho, fazendo enxame
E logo voltava pra casa, pra comer inhame
Êta guri esfomeado!
Na rua, só andava de bicicleta
Desenhava no chão uma ou outra seta
Vinha veloz e dava uma rabiada
E às vezes saia com uma perna machucada
Êta guri arteiro!
A mãe da cozinha gritava:
"Avia menino, vai já tomar banho"
E ele do quarto chorava:
"Quero não mainha, tô com uma pereba desse tamanho"
Êta guri coisado!
Mainha olhava a ferida, já com cara de sabida:
Trazia uma boa pomada, que deixava a perna ardida
"Chore não meu fio, quem mandou ser maluvido?"
"Tome logo o seu banho, e lembre de lavar o imbigo"
Êta guri lodento!
Uma ruma de vizinho já conhecia o tal guri
Um fuxico todo dia, só se ouvia o ti-ti-ti
E ele, pra não se deixar esculhambar
Assustava os gatos daquele povo, que só sabia cabuetar
Êta guri tucudo!
Futucando um dia no baú do velho avô
Encontrou um estilingue, imaginem o que aprontou
Saiu matando calango, acho que todos do mundo
Até que um o mordeu o pé, ele gritou: "ô fio do cabrunco"
Êta guri bocudo!
Era um guri feliz, futucando a esperança
De quem acha que um dia esqueceu de ser criança
Não seja paia, tire seu sapato
E sacuda a tristeza toda no mato
Êta guri felizardo!
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Desbeijo
e ao mesmo tempo é nada
Beijo frio não alegra um coração
Palavras nuas fazem mal à alma
E como aquilo que se diz
é esquecido no momento
em que é falado e ouvido
Seu beijo me é esquecido
no momento
em que é beijado e sentido
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Sem inspiração...
quando tudo parece passado distante
as alegrias são remotas
as risadas já foram esquecidas
e somente a saudade restou?!
Nestes dias,
a inspiração pro recomeço
some.
Tudo se torna cinzas
e o vento está levando, levando, levando...
Quando vou me transformar numa
Fênix?
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Será que cabe romantismo em mim?
precisa-se teorizar,
institucionalizar o amor
e pôr limites onde não há.
Também não é fácil amar,
não é fácil para uma finitude cotidiana
deixar-se penetrar pelas perturbações
e pelas incongruências
que nela são provocadas
quando em contato com algo
de natureza tão oposta à sua
como é o amor
Acontece que eu acabei de falar de amor!
Pois, se ele é de natureza oposta
ao que é finito e cotidiano
logo, é infinito e extraordinário!
Mas ainda assim
o amor não cabe nesta lógica.
Infinito não serve
porque quando estou com você
tenho medo do fim.
Uma angústia me consome
e eu só consigo pensar
que mais cedo ou mais tarde
o seu amor por mim
vai acabar.
Mas por outro lado
há uma chama de certeza
que permite que eu me entregue
e saiba que amanhã você vai voltar.
Isso não é extraordinário?!
Não, não é!
Isso, extraordinariamente,
invade meu ser todos os dias
e até mais de uma vez por dia
tantos quantos forem os momentos
em que estou com você.
Não existem palavras
que sirvam à lógica do amor
porque o amor não tem lógica
ele é sim e não,
é tesouro e esmola,
é nada do que eu tenho
e tudo que eu quero te dar!
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Despedida
Quem me apoiará, quando eu estiver chateada?
E os puxões de orelha, diz quem é que vai dar.
Sentirei saudades e ponto.
Saudades do meu cabelo arrumado, que por graça, você faz questão de bagunçar.
Saudades da nossa conversa na cozinha, saudades do desabafo.
Das piadas sem graça...
Saudades até das inúmeras vezes em que você solta meu cabelo, só pra me chatear.
Saudades dos sustos que você me dá; e dos tapas que lhe dou por me assustar.
Saudades de cozinhar pra você.
De não cozinhar pra você, e você acabar "filando" a minha comida...
De lhe ouvir me chamar de "mitcha"...
De tentar fazer tranças nos fios de cabelo do seu braço.
Até das brigas sentirei falta.
Das vezes em que você voltava pra casa com algo que tinha comprado pra mim, e dizia: "lembrei de você".
Saudades de também lembrar de você.
Saudades da sua chatice...
Saudades, enfim.
Em resumo: sentirei saudades da sua presença. Por isso, volte logo!
quinta-feira, 19 de junho de 2008
quarta-feira, 11 de junho de 2008
A Via Lactea
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso
Hoje a tristeza não é passageira
Hoje fiquei com febre a tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela parecerá uma lágrima
Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor
Mas não me diga isso!
É só hoje e isso passa...
Só me deixe aqui quieto
Isso passa.
Amanhã é outro dia
Não é?
Eu nem sei por quê me sinto assim
Vem de repente um anjo triste perto de mim
E essa febre que não passa
E meu sorriso sem graça
Não me dê atenção
Mas obrigado por pensar em mim.
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Eu me sinto tão sozinho
Quando tudo está perdido
Não quero mais ser quem eu sou.
Mas não me diga isso
Não me dê atenção
E obrigado por pensar em mim..."
PS.: sei que era pra ser uma produção nossa... mas alguém já viu uma pessoa pra conseguir traduzir melhor o que a gente sente do que Renato Russo!!